O LÚDICO NA EDUCAÇÃO
        
      Marilene  Lins Figueirôa 
        Doutoranda pela UDE - Universidad de La Empresa – Montevidéu-UY 
        
      RESUMO: O  presente artigo tem por objetivo fazer uma reflexão teórica a respeito do  lúdico como elemento fundamental no processo de apropriação do conhecimento.  Delimitou-se a problemática para a educação das séries iniciais, por ser,  atualmente, o campo de atuação. O foco central é mostrar os vários aspectos do  lúdico como fonte impulsionadora do processo e desenvolvimento e da  aprendizagem da criança. Neste sentido, pela característica da pesquisa,  buscou-se trazer à tona as idéias fundamentais dos diferentes papéis que o  lúdico exerce no fazer pedagógico da educação das séries iniciais. Sob a luz do  teórico Jean Piaget afirma que a ludicidade é uma ferramenta pedagógica e que  exerce uma função fundamental para o desenvolvimento da criatividade,  iniciativa e autonomia, como também para a apropriação dos diversos saberes  produzidos historicamente pela humanidade.  
      Palavras- Chaves: Lúdico; Criança; Alfabetização; Educação.   
      ABSTRACT: The present article has as its  aim to make a theoretical reflection about the “ludico” as a primary element in  the knowledge acquisition process. We’ve delimitated the problematic to the  beginner series, for being the actuation field nowadays. The central spot is  showing the various aspects that the “ludico” as a pushing source of the  learning development process of the child. Is this way, by the characteristic  of the research, we’ve aimed to bringing up to the top, the primary ideas of  the defferent roles the “ludico” plays when doing the pedagogical part of the  education to the beginner series. Highlighted by Jean Piaget who says that the  “ludicidade” is a pedagogical tool that carries out the primary function to the  creativity development, initiative and autonomy, as well as to the acquisiotin  of the several knowledege mad up through the time by the humanity.  
      Keywords: “Ludico”; Child; Alphabetization; Education.  
        
                 1. Introdução 
                  No curso da história, tempos  diferentes, brinquedos diferentes. No primeiro tempo, os brinquedos  confeccionados pelas crianças - a  o  tempo das bonecas de pano, dos carrinhos de madeira, dos cavalos de pau, das  brincadeiras de amarelinhas, das cantigas de roda, com o cenário natural da noite,  e o mistério das estrelas. Este era um tempo em que a subjetividade da criança  se fazia de uma criança para outra e da criança com a mãe. Tempo em que se  preservava o sonho e os limites se definiam no aprendizado de uma relação que é  essencialmente lúdica - a relação de uma criança com a outra. 
        Hoje, novos tempos, a marca da  industrialização, iguais entre si e impostos à criança pelos meios de  comunicação de massa. Tempos de globalização, quebra da singularidade do  sujeito. Assim, a subjetivação da criança se faz num outro cenário. As brincadeiras  de fundo de quintal foram substituídas e reduzidas a um quarto e a uma tela de  televisão ou computador. A relação da criança não é mais com outra criança, mas  com a imagem virtual. Com isso, as emoções se perdem nesses circuitos  eletrônicos e a criança passa a ter como melhor companhia, a máquina e as  imagens virtuais. 
        Assim, através do lúdico, o educador  pode desenvolver e contribuir com a criança para a melhor assimilação dos  saberes oferecidos pela escola. Fazendo o uso do lúdico, baseado em brincadeiras  que ensinam, de forma concreta, é que no decorrer desta discussão pretende-se  mostrar recursos que possam contribuir para o desenvolvimento de programas que  propiciem aos educadores a reflexão sobre a importância que as atividades  lúdicas podem fornecer à criança, às suas emoções, interações com colegas,  desempenho físico motor, suas fases de desenvolvimento, seu nível lingüístico,  sua formação moral. 
        A medida que a criança se desenvolve  e interage com o meio e com o grupo, sua identidade, sua auto-imagem positiva,  sua personalidade são desenvolvidas. A afetividade é uma constante no processo  de construção do conhecimento na escola de seus objetivos e transformações em  seu universo cognitivo, lingüístico e social. 
        Torna-se, portanto, importante a  implantação de uma proposta baseada no lúdico no cotidiano escolar, visando  ampliar o desenvolvimento dos educandos, através de tarefas descontraídas como  danças, artes, ciências, jogos, entre outras atividades. 
                 2.  Revisão de literatura 
                  A sala de aula tem, entre outras  características, o fato de se apresentar como coisa séria, não permitindo  espaço para o divertimento; o rigor e a disciplina são mantidos em nome dos  padrões institucionais, o que torna o ambiente infantil artificial, longe dos  gostos das crianças. O brincar se resume em ouvir histórias ou cantar algumas  músicas. A hora do recreio e a hora da saída se tornam os únicos momentos em  que as crianças se desnudam da responsabilidade da escola para permitir-se  brincar e ser criança. 
        A escola precisa se dar conta que  através do lúdico as crianças têm chances de crescerem e se adaptarem ao mundo  coletivo. O lúdico deve ser considerado como parte integrante da vida do homem  não só no aspecto de divertimento ou como forma de descarregar tensões, mas  também como uma forma de penetrar no âmbito da realidade, inclusive na  realidade social.  
        A questão fica sobre o fato das  escolas afastarem o lúdico da vivência dos alunos em sala de aula ao invés de  aproveitarem como instrumento facilitador da aprendizagem, o que demonstra uma  postura que nega a cultura infantil. Como nos diz Santo Agostinho: "O  lúdico é eminentemente educativo no sentido em que constitui a força impulsora  de nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, o princípio de toda descoberta  e toda criação".  
        Nessa perspectiva, CAMPOS (2001, p.  12) destaca: "observa-se que a escola pode contribuir para a formação de  bonecos manipulados, moldados de acordo com os padrões exigidos pela sociedade  capitalista e injusta, negando-lhe o processo de criação e descoberta do mundo  onde interage, prevalecendo os interesses da escola e não de um indivíduo que  pode pensar, refletir e agir". 
        Em contrapartida, não devemos negar  que a escola tenha também o seu lado sério. O problema é a forma pela qual ela  interage com as crianças. O fato de apresentar-se séria não quer dizer que ela  deva ser rigorosa e castradora, mas que ela consiga penetrar no mundo infantil  para, a partir daí, poder desempenhar a sua real função de formadora  afetivo-intelectual. Para tanto, é necessário que a mesma busque valorizar a  seriedade na busca do conhecimento, resgatando o lúdico, o prazer do estudo,  sem contudo reduzir a aprendizagem ao que é apenas prazeroso em si mesmo.  
                  2.1 A importância  do lúdico 
                  O uso do lúdico, no contexto  educacional, só pode ser situado corretamente a partir da compreensão dos  fatores que colaboram para uma aprendizagem ativa. Vê-se muitas vezes jogos de  regras modificados sendo usados em sala de aula com o intuito de transmitir e  fixar conteúdos de uma disciplina, de uma forma mais agradável e atraente para  os alunos. No entanto, segundo CAMPOS (2001, p. 12), "mais do que o jogo  em si, o que vai promover uma boa aprendizagem é o clima de discussão e troca,  com o professor permitindo tentativas e respostas divergentes ou alternativas,  tolerando os erros, promovendo a sua análise e não simplesmente corrigindo-os  ou avaliando o produto final". Isso tudo não é muito fácil de controlar e  muito menos de se prever e planejar de antemão, o que pode trazer desconforto e  insegurança ao professor. Por isso, ele tende a usar o lúdico e outras  propostas que potencialmente ativam as iniciativas dos alunos (como pesquisas  ou experiências de conhecimento físico) de modo muito limitado e direcionado e  não como recurso de exploração e construção de conhecimento novo.  
        O lúdico pode ser realizado através  de passeios, trabalhos externos e com objetos trazidos pelos educandos que  enriquecem a aula e tornam o educando participativo e atuante. Esses objetos  inclusive podem ser coletados durante o passeio para que as crianças sintam,  através do toque, diferentes texturas e formas. 
        Dependendo da abordagem e do preparo  do profissional, o uso do lúdico em sala de aula é um recurso tanto para  avaliação quanto para intervenção em processos de aprendizagem. Numa abordagem  que evita atacar o sintoma de frente, o lúdico é o recurso ideal, pois promove  a ativação dos recursos da criança sem ameaçá-la.  
        PIAGET (1987) afirma que "O  jogo é um tipo de atividade particularmente poderosa para o exercício da vida  social e da atividade construtiva da criança". Pelo lúdico, procura-se  integrar os fatores cognitivos e afetivos que atuam nos níveis conscientes e  inconscientes da conduta, não se pode deixar de lado a importância do símbolo  que age com toda sua força integradora e auto-terapêutica no lúdico, atividade  simbólica por excelência. Abrir canais para o simbólico do inconsciente não é  só promover a brincadeira de "faz de conta" ou o desenho. Qualquer  jogo, mesmo os que envolvem regras ou uma atividade corporal, dá espaço para a  imaginação, a fantasia e a projeção de conteúdos afetivos, mais ou menos  conscientes, além, é claro, de toda a organização lógica que está ali  implícita.  
        O professor, para CAMPOS (2001, p.  15), "não interpreta mas deve poder compreender as manifestações  simbólicas e procurar adequar as atividades lúdicas às necessidades das  crianças." 
        Aprender com o outro é mais rápido e  mais efetivo porque é mais prazeroso. Uma das coisas que o jogo assegura é esse  espaço de prazer e aprendizagem que o bebê conhece mas que a criança perde  quando entra na escola. Competir dentro de regras, sabendo respeitar a força do  oponente, perceber uma situação sob o ponto de vista oposto ao seu.  
        Dependendo de como é conduzido, o  jogo ativa e desenvolve os esquemas de conhecimento, aqueles que vão poder  colaborar na aprendizagem de qualquer novo conhecimento, como observar e  identificar, comparar e classificar, conceituar, relacionar e inferir. Também  são esquemas de conhecimento os procedimentos utilizados no jogo como o  planejamento, a previsão, a antecipação, o método de registro e contagem e  outros.  
        Conhecendo primeiramente as  condições e as necessidades de cada estágio desses esquemas de conhecimento.  Não é questão de oferecer jogos diferentes para cada faixa etária (como vem  indicado nas caixas de jogos). Jogos com a mesma estrutura podem servir para  várias idades se manejamos a sua complexidade, aumentando ou diminuindo o  número de informações. Nos jogos de Senha, por exemplo, podemos variar de 3, 4  ou mais, os elementos a serem descobertos, o que resulta numa diferença muito  grande de complexidade da tarefa. Se trabalhamos com dois atributos, cor e  posição, colocamos mais dificuldade para coordenar as partes no todo, mas se  combinamos de saída as cores, a criança só vai se preocupar em achar a  seqüência das posições da Senha. Outro aspecto é o nível de abstração em que a  criança vai operar: o mesmo jogo pode ser apresentado por figuras ou apenas  verbalmente, caso esse em que o poder de abstrair e de conceituar a partir de  proposições precisa ser bem maior.  
        Para CAMPOS (2001, p. 18), "se  o jogo vira obrigação ou é usado com finalidade de instrução apenas, perde seu  caráter de espontaneidade e deixa de ser jogo porque se esvazia no seu potencial  de exploração e invenção. Brincar é fundamental. Muitos adultos não sabem  brincar, perderam essa capacidade de se descontrair, de se arriscar ou nunca a  tiveram e aí fica difícil usar o jogo como recurso tal como eu o entendo".  
        A criança precisa sentir-se  valorizada e devemos respeitar cada fase de seu desenvolvimento. Como afirma  SNYDERS (1996, p. 28), “contudo, é preciso enfatizar que preparar-se para o  futuro faz parte das alegrias presentes na infância: O desejo de crescer é um  dos componentes essências do presente da criança”.  
        O lúdico torna-se, portanto, de  vital importância, principalmente porque falta para a escola juntar o  conhecimento cientifico ao popular, pois é na prática que se aprende. O  problema da escola está,  pois, de acordo  com SCHLIEMANN (1988, p. 42), “na   incapacidade de estabelecer uma ponte entre o conhecimento formal que  deseja transmitir e o conhecimento prático do qual a criança, pelo menos em  parte, já dispõe”. 
        Neste processo de desenvolvimento da  criança onde pode-se perceber cor, forma, textura, consistência, tamanho, peso,  odor, também classificar, seriar, trabalhar com o corpo e o espaço. O interagir  com os adultos (pais) através de excursões com a classe, verbalizar emoções,  desenhar, imaginar, jogar. Já o aspecto psicomotor traz o trabalho com o corpo  onde é realizado exercícios rítmicos, jogos, danças, etc... O trabalho social  está voltado ao respeito às regras e limites. No aspecto afetivo, um dos mais  importantes e discutidos atualmente, devido à   falta desses sentimentos na vida das pessoas, percebe-se e discute-se as  alegrias da realização dos trabalhos, o carinho para com o próximo, o  companheirismo com o semelhantes. 
        FREIRE (1987, p. 74) nos esclarece  um pouco mais sobre as diferenças entre o adulto e a criança, sendo que  
      o mundo do adulto é intrinsecamente diferente do  mundo da criança. O mundo adulto é utilitário, produtivo, realista. O mundo da  criança é lúdico, fantástico, idealista (...). O adulto produz e aprende  trabalhando, a criança brincando. O trabalho e o aprendizado da criança  acontecem brincando. É através disto que a criança vai tomando contato com o  mundo das regras. Todo o jogo tem suas regras que devem ser entendidas,  incorporadas e respeitadas pela criança.  
                  Devemos, no entanto, lembrar que,  segundo FREIRE (1987, p. 74), “o  mundo  do adulto é intrinsecamente diferente do mundo da criança. O mundo adulto é  utilitário, produtivo, realista. O mundo da criança é lúdico, fantástico,  idealista”. 
        A criança desenvolve suas atividades  através da imaginação, fantasia, liberando energias e interagindo como o mundo.  Adulto, imagina de acordo com a realidade, faz plano, age planejadamente, não  sonha, não divaga pela imaginação, portanto não traduz os desejos da alma. 
        A comunidade escolar deve ser agradável,  pois, para SNYDERS (1996, p. 27), “somente se o aluno sentir a alegria presente  na escola é que ele reprimirá sua inclinação à distração, à preguiça, a  facilidade”.  
        À medida que a criança interage com  os objetos e com outras pessoas, construirá relações e conhecimentos à respeito  do mundo em que vive. Aos poucos, a escola, a família, em conjunto, deverão  favorecer uma ação de liberdade para a criança, uma sociabilização que se dará  gradativamente, através das relações que ela irá estabelecer com seus colegas,  professores e outras pessoas.  
      
        
          
            - O lúdico e o brincar na escola
 
           
         
       
                  Brincar, hoje, nas escolas está  ausente de uma proposta pedagógica que incorpore o lúdico como eixo do trabalho  infantil. Percebe-se a inexistência de espaço para o desenvolvimento cultural  dos alunos. Esse resultado, apesar de apontar na direção das ações do  professor, não deve atribuir-lhe culpabilidade. Ao contrário, trata-se de  evidenciar o tipo de formação profissional do professor que não contempla  informações nem vivências a respeito do brincar e do desenvolvimento infantil  em uma perspectiva social, afetiva, cultural, histórica e criativa.  
        É rara a escola que invista neste  aprendizado. A escola simplesmente esqueceu a brincadeira, na sala de aula ou  ela é utilizada com um papel didático, ou é considerada uma perda de tempo. E,  até no recreio, a criança precisa conviver com um monte de proibições, como  também ocorre nos prédio e clubes.  
        Valorizar, neste caso, significa  cada vez mais levar o brinquedo para a sala de aula e também munir os  profissionais de conhecimentos para que possam entender e interpretar o  brincar, assim como utilizá-lo para que auxilie na construção do aprendizado da  criança. Para que isso aconteça, o adulto deve estar muito presente e  participante nos momentos lúdicos.  
        O lúdico faz parte do processo  educativo, na medida em que alia o conhecimento, o cotidiano e a fruição. A  brincadeira pode ser entendida como um diálogo simbólico entre a criança e a  realidade em que está inserida. Para MARCELINO (1990, p. 72) “... o brinquedo,  o jogo, a brincadeira, são gostosos, dão prazer, trazem felicidade. Através do  prazer, o brincar possibilita à criança a vivência de sua faixa etária e ainda  contribui de modo significativo para a sua formação como ser realmente humano,  participante da cultua da sociedade em que vive (...) A vivência do lúdico é  imprescindível em termos de participação cultural crítica e, principalmente,  criativa”. 
        As atividades lúdicas  visam incitar e exatas a imaginação das  crianças e criar unia situação de  aprendizagem, sendo muito importante no processo de socialização. É primordial  que o brinquedo, o jogo, o lazer, o prazer marquem sempre um encontro com a  criança na sala de aula. A brincadeira pode se entendida como um diálogo  simbólico entre a criança e a realidade em que está inserida. 
        BENJAMIM (1984)  sinaliza: “A criança quer puxar alguma coisa e toma-se cavalo, quer brincar com  areia e toma-se pedreiro, quer esconder-se e toma-se ladrão ou guarda”. É  preciso considerar que não existe uma criança, mas muitas crianças com  vivências variadas. Assim, o professor deve levar em conta que não existe  apenas uma cultura da criança, mas várias culturas, e aproveitar o momento para  a troca, o enriquecimento, através das diferentes experiências da vida. 
        A ludicidade é um  assunto que tem conquistado espaço no panorama nacional, principalmente na  educação infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, por ser o  brinquedo a essência da infância e seu uso permitir um trabalho pedagógico que  possibilita a produção do Conhecimento. 
      As concepções sobre  alfabetização fundamentam-se numa visão de homem e de sociedade. Nessa  perspectiva, a aprendizagem da leitura e da escrita deve ser entendida como um  processo de múltiplas dimensões que promoverá o indivíduo à condição de ser  social ativo, considerando suas experiências e interações com seus pares, a fim  de que possa construir a escrita. 
      2.3 O jogo 
                  Os jogos, bem como a  dança e outros tipos de manifestações desenvolvidas pelo povo, devem fazer parte  do cotidiano escolar, pois reproduzem relações sociais e desempenham atitudes  que favorecem o raciocínio lógico e o desenvolvimento cognitivo. Através dos  jogos, são simbolizadas relações do real e do imaginário da criança. 
        Para VYGOTSKY (1984, p.  118): 
      A criança começa com uma situação imaginaria, que é uma reprodução da  situação real sendo brincadeira muito mais lembrança de alguma coisa que  realmente aconteceu, do que uma situação imaginaria nova. À medida que a  brincadeira se desenvolve, observamos um  movimento em direção a realização consciente do seu propósito. Finalmente  surgem as regras que irão possibilitar a divisão do trabalho e do jogo na idade  escolar.  
                  Assim, o jogo vem sendo  a atividade predominante no esforço de “conhecer” o mundo; nas séries iniciais,  se configura como principal estratégica de   conhecimento. Para organizar de forma produtiva o trabalho pedagógico  nas séries iniciais, o professor precisa ter clareza do processo de aquisição  do conhecimento pela criança, mais particularmente em cada idade escolar e de  como utilizá-las no processo de ensino. 
        É através dos jogos e  brincadeiras que o aluno vai ser incentivado a aprender com maior facilidade e  empenho. O professor, através destas, deverá estimular a capacidade de  observação, percepção, imaginação, análise e avaliação. Dessa forma, estará  preparando seus alunos para viverem com coragem, habilidade e disciplina. 
        As atividades  recreativas devem ser aplicadas de forma correta, planejada com objetivos, de  modo que leve, realmente, o aluno a aprender brincando. 
        O método lúdico pode  desenvolver na criança sua espontaneidade, aliviar sua tensão interior,  reeducar seu comportamento, aumentar seu coeficiente de autoconfiança e fazê-la  agir com firmeza. 
        Na execução das atividades lúdicas,  o professor deve transmitir segurança do seu trabalho. Cada palavra ou gesto  deve representar entusiasmo e estímulo. 
        Sendo assim, deve-se  transformar a sala de aula em um ambiente significativo, que é de fundamental  importância para que a elaboração do conhecimento se concretize. A sala de aula  não pode ser vista como um lugar de coisas “chatas” e corriqueiras que aparecem  despojadas de significado, pois é na infância que o homem pode viver no faz de  conta não permitido ao adulto. 
        Segundo VYGOTSKY (1989,  p. 117), “no brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento  habitual de sua idade, além de seu comportamento diário. No brinquedo é como se  ela fosse maior do que é na realidade”. 
        A ludicidade propõe um  trabalho de enriquecimento, possibilitando a interdisciplinaridade, onde se  desenvolvem habilidades de reflexão sobre o tema a ser abordado, “Brincar  criando”, enfatizando a brincadeira produtiva, liberando o imaginário do aluno. 
        O jogo é, portanto, uma  atividade que permite o desenvolvimento afetivo, motor, cognitivo, social,  moral, além da aprendizagem de conceitos. O jogo, sobretudo, ainda objetiva  desenvolver o raciocínio, a socialização, a memória, a coordenação dinâmica  manual, uso-motora, espacial e a concentração. 
        Ele pode ser aplicado  nas mais diversas áreas da linguagem, tornando um ponto muito atrativo para  professores fixarem os mais diversos conteúdos. A aceitação por parte dos  alunos é praticamente unânime, pois o jogo é prazeroso, sendo também um  passatempo. Além de todas essas vantagens, ele também pode ser realizado em  grupos, contribuindo para a integração da comunidade escolar. 
        Porém, como todas as atividades que  são desenvolvidas no contexto escolar, as atividades lúdicas exigem limites  para que se obtenha êxito nos objetivos traçados. FREIRE (1987, p. 220) diz:  "As vezes existe a necessidade de fazer concessões aos limites do momento,  à necessidade de inserir o ensino critico no uso correto da linguagem e nas  questões profissionais. Mas, as eras conservadoras que impõem tais limites se  fazem e se desfazem na história. Assim que o conservadorismo recuar, a  resistência dos  estudantes ao ensino  transformador deve diminuir". 
        Em qualquer época da vida de  crianças e adolescentes, e porque não de adultos, as brincadeiras devem estar  presentes. Brincar não é coisa apenas de crianças pequenas, erra a escola ao  subsidiar sua ação, dividindo o mundo em lados opostos: de um lado, o jogo da  brincadeira, do sonho, da fantasia e, do outro, o mundo sério do trabalho e do  estudo. Independente do tipo de vida que se leve, todos adultos, jovens e  crianças, precisam da brincadeira e de alguma forma de jogo, sonho e fantasia  para viver. 
        A capacidade de brincar abre para  todos, crianças, jovens e adultos, uma possibilidade de decifrar enigmas que os  rodeiam. A brincadeira é o momento sobre si mesmo e sobre o mundo, dentro de um  contexto de faz-de-conta. Nas escolas, isso é comumente esquecido.  
      2.4 Possibilidades  do lúdico em sala de aula 
                  A recreação é sem  dúvida uma das atividades que mais chamam a atenção dos educandos. Ela tem  muito valor na vida escolar. A liberdade é fundamental, principalmente  tratando-se de educação infantil na criação, atividades lúdicas e imaginativa  que estão presentes nas brincadeiras, no brinquedo e no jogo, envolvendo a  construção, manifestação expressiva e lúdica, sons, fala, gestos e movimentos.  Todas essas atividades com certeza trarão ótima apreensão dos conhecimentos  para o desenvolvimento motor e psicológico, além da integração com os colegas. 
  Para  VYGOTSKY (1989, p. 118), "O ensino sistemático não é a única forma de  conhecimento existente para a criança, o brinquedo também é importante para o  seu desenvolvimento global. Por mais simples que seja o brinquedo, brincar  facilita o crescimento e, portanto a saúde. Conduz relacionamento grupais, é  uma forma de comunicação". 
        O ideal  em uma escola é contar com um espaço físico  arborizado, onde os alunos possam correr, descobrir novidades, explorar  lugares. O movimento ajuda a criança a liberar tensões, aprimorar seu  equilíbrio, sua agilidade, senso de direção, lateralidade. Correr, saltar,  pendurar-se, marchar, lançar-se faz muito bem, pois a criança está em fase de  tenso desenvolvimento. 
        A gestualidade, as  mímicas, são expressões fantásticas que contribuem grandemente para o  desenvolvimento da linguagem. Muitas pessoas se comunicam através deste sistema  e por isso ele deve ser desenvolvido por nós para contribuímos para  uma melhor interação entre as pessoas. 
        Atividades como as  mímicas são de excelente qualidade para enriquecer a aula. O teatro abre as  cortinas da imaginação desenvolvendo a linguagem, os gestos, o movimento e  principalmente extinguindo certos preconceitos que as pessoas adquirem ao longo  da vida. Com a interpretação de personagens diversos, as vezes até do sexo  oposto, é que vão entender as diferenças pessoais de cada ser humano. 
        Conforme KELLY (1973),  expressão e comunicação, que acompanham a humanidade desde a antiguidade  tornaram-se para o presente um estimulo, inclusive pela facilidade com que os  meios de transmissão estão dispostos na vida das pessoas, fazendo com que a  comunicação seja, de fato atônica de nosso século. 
        A mímica está associada  aos sons, a música, pois com a precisão dos gestos desenvolvidos pelo ato que  está em cena e o acompanhamento de alguns ruídos traduz gestos e idéias. É uma  arte milenar, cultivada desde os primórdios do teatro. 
        Todo o gesto tem  conteúdo e propósito. Através dele se explicita emoções, felicidade, tristeza,  e para isso o ator utiliza técnicas e partes do seu corpo como os olhos, a  boca, mãos, braços, etc. 
        Todos os alunos de uma  forma ou de outra praticam a mímica, pois algumas situações da vida diária nos  obrigam a exercita-la como: vestir-se, tomar um ônibus, fazer refeições, etc. 
        O jogo dramático, ou  seja, o 'faz de conta', está associado às brincadeiras infantis. Isso  desenvolve os futuros atores que terão uma bagagem de conhecimento dentro de  todos os aspectos. Através dessa atividade, o aluno desenvolve atitudes  espontâneas que contribuem para a pratica educacional. 
        O teatro e sua prática  utilizam muitos aspectos como o cenário, o figurino, a maquiagem ou máscaras  caracterizando os personagens. Tudo o que foi citado é parte fundamental para a  caracterização do personagem, visto que a interpretação neste caso torna-se  completa. Portanto, não adianta fazer uma boa interpretação (sendo que esta nem  sempre é verbal) se não tiver suporte (cenário, figurino, etc...), ambos  dependem um do outro. 
        Marionetes e fantoches  também constituem um tipo especial de teatro. No inicio dos tempos, eram  utilizados para enfatizar sátiras políticas. Hoje estão aliados a histórias  infantis clássicas e também àquelas inventadas na hora da apresentação, que sem  dúvida nenhuma despertam a expressão e a articulação das expressões sonoras e  corporais. Sem duvida essa modalidade de teatro constitui uma situação lúdica.  
        O interessante ainda do  desenvolvimento do teatro no cotidiano escolar está voltado para a questão da  integração dos educandos, pois as crianças trabalham em grupo para a realização  das peças teatrais. Um personagem precisa do outro para dar uma sequência  lógica à peça e isso desenvolve o sentimento da cooperação tão necessário e  pouco exercido pelas pessoas atualmente. 
      3. Considerações finais 
                  Brincadeira e aprendizagem são  consideradas ações com finalidades bastante diferentes e não podem habitar o  mesmo espaço e tempo. Isto não está certo. O professor é quem cria  oportunidades para que o Brincar aconteça, sem atrapalhar as aulas. São os  recreios, os momentos livres ou as horas de descanso.  
        No entanto, constata-se que é  através das brincadeiras que a criança representa o discurso externo e o  interioriza, construindo seu próprio pensamento. O adulto transmite à criança  uma certa forma de ver as coisas. Quando apresentamos várias coisas ao mesmo  tempo, ou então por tempo insuficiente ou excessivo, estamos desestimulando o  estabelecimento de uma atitude de observação.  
        Se quisermos que a criança aprenda a  observar, se quisermos que ela realmente veja o que olha, temos que escolher o  momento certo para apresentar-lhe o objeto, motivá-la e dar-lhe tempo  suficiente para que sua percepção penetre no objeto. Teremos também que  respeitar o seu interesse.  
        Insistir quando a criança já está  cansada é propiciar o aparecimento de certas reações negativas. Aprender a ver  é o primeiro passo para o processo de descoberta. É o adulto quem proporciona  oportunidades para à criança ver coisas interessantes, mas é indispensável que  respeitemos o momento de descoberta da criança para que ela possa desenvolver a  capacidade de concentração.  
        Assim  como a criatividade da pessoa que interage com à criança poderá torná-la  criativa, a paciência e a serenidade do adulto influenciarão também o  desenvolvimento da capacidade de observar e de concentrar a atenção.  
      Referências 
      BENJAMIM, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a  educação. 3 ed. São Paulo: Sumus, 1984.  
      CAMPOS, Maria Célia Rabello  Malta. A importância do jogo na  aprendizagem. São Paulo: USP, 2001. 
      CHLIEMANN, Ana Lúcia. CARRAHER,  David & CARRAHER, Terezinha. Na vida  dez, na escola zero. São Paulo: Cortez, 1988. 
      FREIRE, Paulo.  Shor,  Ira - Medo e ousadia: o cotidiano dos professores. 2 ed. Rio de Janeiro:  Paz e Terra, 1987. 
      ____________. Pedagogia da autonomia. 15 ed. São  Paulo: Paz e Terra, 1996. 
      JACKSON, Paul. A' Court Angela. Origami - artesanato em papel.   Erechim - RS:  Ind-graf, 1996. 
      KELLY, Celso. Escola Nova para um tempo novo. Rio de  Janeiro: Olympio, 1973. 
      MARCELINO, Nelson Carvalho. Pedagogia da animação. São Paulo, 1990. 
      OSTROWER, Faya. Criatividade e processo de criação. São  Paulo: Vozes, 1996. 
      SNYDERS, Georges. Alunos felizes. 2 ed. Rio de Janeiro:  Paz e Terra, 1996. 
      TOLKMITT, Valda M. Educação Física: uma produção cultural.  Curitiba, Pr: Módulo, 1993. 
      VYGOTSKY, Liev Semionovich. A formação social da mente. 6 ed. São  Paulo: Martins Fontes, 1984. 
    _______________________.  Psicologia del arte. Barcelona: Barral, 1989.             |